segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Em 40 anos, país trocou carvão vegetal por grandes hidrelétricas e hoje 99% dos lares têm luz

As últimas quatro décadas foram determinantes para a consolidação do sistema energético nacional e, consequentemente, para a industrialização do país. Neste período, o Brasil deixou para trás uma fonte poluente e arcaica (o carvão vegetal), construiu a maior hidrelétrica do mundo, a binacional Itaipu, e entrou no campo da geração nuclear. Em 40 anos, a capacidade de produzir energia do país aumentou dez vezes, de 10.262 megawatts (MW), suficientes para iluminar apenas a Brasília de hoje, para 104.400 MW. E, hoje, 99% dos lares brasileiros têm luz elétrica.
Uma das marcas desse período é a ascensão das hidrelétricas, que produzem atualmente cerca de 78 mil MW da energia nacional a partir de 662 usinas. O destaque absoluto é a hidrelétrica binacional de Itaipu, no Rio Paraná, inaugurada em 1984. Seus 14 mil MW de potência abastecem 20% do mercado nacional e representam mais do que os quatro maiores projetos de hidrelétricas atualmente em execução no país. Somam-se à Itaipu mais sete gigantes de porte internacional, com mais de dois mil MW de potência, como Tucuruí, no Tocantins, Xingó, em Sergipe, e Ilha Solteira, em São Paulo. Um pouco dessa história será analisada nesta segunda-feira no seminário "Cenários e Perspectivas para o Brasil", com patrocínio da CNI . O seminário, no auditório do GLOBO, será em comemoração aos 40 anos do caderno de Economia do jornal. Segundo Nelson Hubner, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), "praticamente tudo no setor aconteceu nestes 40 anos": - Construímos as grandes usinas e o sistema de transmissão Racionamento parou o país em 2001. Com a segunda crise do petróleo, em 1979, o estado brasileiro perdeu a capacidade de investir. A consequência veio duas décadas depois. Em março de 1999, a população de dez estados ficou sem luz durante 40 minutos. O apagão antecipava o pior cenário: a necessidade de racionamento de energia. Entre junho de 2001 e março de 2002, o racionamento travou a expansão do país. O susto levou o governo a tentar garantir o fornecimento com as termelétricas. Hoje, esta é a segunda força geradora do país, com 995 unidades. O Brasil tem ainda 16 empreendimentos de geração eólica e duas usinas nucleares. - A consolidação do parque gerador hidráulico e a privatização foram dois marcos importantes e positivos dos últimos 40 anos - disse Ricardo Lima, presidente-executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). A privatização começou em 1995 pelas distribuidoras. Light e Cerj (atual Ampla) foram vendidas em 1996 e dois anos depois, foi a vez da Eletropaulo. Na geração, só a Gerasul foi privatizada. A distribuição de energia sempre foi um desafio que, no entanto, só vem sendo atacado na última década, com a participação privada. O Brasil tinha 87.568 quilômetros de linhas no Sistema Interligado Nacional em operação ao fim de 2008, o suficiente para ligar Lisboa a Moscou, diz Hubner, da Aneel. O objetivo do governo é que o sistema elétrico do país esteja 99,6% interligado a partir de 2011, quando ficará concluído o Linhão Norte (Tucuruí-Macapá-Manaus). A conclusão da ligação com o Norte, aliada à saturação das bacias hidrográficas das demais áreas do país, fazem da Região Amazônica a nova fronteira hidrelétrica do Brasil. Os três maiores empreendimentos em curso no Brasil estão na floresta, com custos socioambientais elevados. As usinas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira, em Rondônia, somam 6.494 MW e foram licitadas em 2008. A hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, com 11.181 MW, teve uma liminar que travava o processo de licitação derrubada há duas semanas. O potencial amazônico de geração chega a 112.000 MW - mais do que o país produz hoje. Hoje, 57,9 milhões de lares têm luz. A construção das hidrelétricas e da malha de transmissão foi fundamental para levar eletricidade aos domicílios e negócios de todo o Brasil: este ano, 57,9 milhões de lares (99%) contam com o serviço, segundo a Aneel. O programa "Luz para Todos", lançado em 2003, deu impulso à universalização. Seu objetivo, de levar energia a dez milhões de pessoas até o fim de 2008, foi alcançado em junho deste ano. Até setembro de 2010 fará mais um milhão de ligações. O programa mudou a rotina da cearense Maria Moreira Mesquita, de 64 anos. Moradora da comunidade Riacho do Meio, em Trairi, a 125 quilômetros de Fortaleza, Maria costumava caminhar por uma hora até a casa da filha para ver televisão. Em fevereiro, ela pôde finalmente estrear sua TV de tela plana. O marido de Maria, Antônio, reclama da conta de luz de R$ 11 mensais, mas a mulher lembra dos benefícios.

Nenhum comentário: