O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia adiantado, na semana passada, sua torcida pela vitória de Barack Obama nas eleições dos EUA. "Da mesma forma como o Brasil elegeu um metalúrgico e a Bolívia elegeu um índio, seria um avanço cultural a vitória de um negro na maior economia do mundo", disse Lula. Mas que impacto real terá a eleição de Obama no Brasil? Ainda que McCain e os republicanos sejam mais propensos à abertura comercial dos EUA, especialistas escutados pelo G1 concordam com Lula em linhas gerais e crêem que a escolha por Obama foi acertada. A curto prazo, McCain talvez fosse mais vantajoso para o Brasil, por fazer maior defesa do comércio livre, enquanto Obama e seu partido são contra a redução de tarifas agrícolas que beneficiariam o etanol brasileiro, entre outras commodities. “Mas Obama é melhor para o mundo, por ser mais negociador e diplomático”, defende o professor da FEA-USP Carlos Eduardo Soares Gonçalves, autor de “Economia sem Truques”, em entrevista ao G1. “Isso deve diminuir as tensões geopolíticas, reduzir as chances de uma arrancada no preço do petróleo e aumentar o fluxo de capitais, que indiretamente beneficiariam o nosso país”. Opinião semelhante dá Paulo Visentini, professor e pesquisador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Em geral o Brasil tendia a preferir presidentes republicanos, menos protencionistas. Mas hoje somos menos dependentes dos norte-americanos. E o Obama não é um negro ‘de gueto’, e sim um cosmopolita, com uma abertura ao diálogo que os EUA precisam recuperar”, analisa Paulo Visentini, professor e pesquisador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rafael Duarte Villa, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da USP, acredita que o grande diferencial de Obama é que ele pode recuperar o multilateralismo na política externa dos EUA, mas é mais cauteloso quanto ao impacto econômico de uma administração democrata no Brasil. Afinal, diz ele, a América Latina não é prioridade dos EUA no momento. “Mais do que efeitos em abertura comercial ou mudanças políticas, a América Latina e o mundo sentirão o impacto das medidas tomadas contra a crise financeira. Mas isso ainda é uma incógnita”, explica Duarte Villa. Os especialistas apontam que o presidente eleito terá pouca margem de manobra para domá-la. Afinal, tanto Obama como John McCain votaram, como senadores, pela aprovação do pacote de socorro de US$ 700 bilhões aos bancos elaborado pela gestão de George W. Bush. “Sobra pouca autonomia ao presidente eleito, já que as políticas econômicas estão amarradas ao pacote”, diz Visentini.
Do Portal G1
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