O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas aos empresários nesta terça-feira e defendeu a necessidade de forte intervenção do Estado no sistema financeiro. Segundo Lula, o governo volta a ter um “papel extraordinário” para resolver a crise. "Eles (empresários) passaram três décadas negando o papel do Estado. Mas na hora da crise procuram o Estado para resolver o problema. Chegou a hora de os políticos entrarem em ação e proporem que o sistema financeiro tenha obrigação de ganhar seu dinheiro aplicando em coisas para a geração de produtos, geração de riqueza. Não podemos permitir que o sistema financeiro brinque com a sociedade. Não é possível que alguém fique rico apenas trocando papéis", criticou o presidente, ao discursar na 9º Cúpula Brasil-Portugal, que contou com a presença do primeiro-ministro português, José Sócrates. O governo brasileiro tem tomado uma série de medidas para mitigar os efeitos da crise no país. Mais cedo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou a criação de uma nova linha de R$ 3 bilhões para construção civil. Ele também disse que o governo pode aumentar o prazo do pagamento de impostos das empresas, aumentando a liquidez das indústrias neste momento de crise. As medidas se somam às recentes liberações de bilhões dos compulsórios de bancos. O Banco Central também tem injetado dólares diariamente no mercado financeiro para conter a desvalorização do real. Hoje a moeda americana fechou em queda, e a bolsa opera em alta. O presidente Lula também afirmou que os megabancos já sabiam da crise e se tivessem admitido antes ela não teria tomado a atual dimensão. Segundo Lula, nos últimos anos os políticos andaram de “cabeça baixa” diante do discurso do neoliberalismo, mas ele defendeu a atuação do governo para regular o sistema financeiro. "Não é um discurso eminentemente ideológico. É um discurso para garantir que o sistema financeiro tenha liberdade de trabalhar desde que não cause prejuízo à sociedade". Lula ressaltou novamente que essa crise não é brasileira, e que o governo trabalhou muito para colocar a economia em “ordem” nos últimos seis anos. O presidente também fez duras críticas às empresas brasileiras que estavam especulando no mercado de derivativos. "Alguns setores resolveram investir num tal de derivativo. Não era um hedge, era um pouco mais. Apostaram na desvalorização do real. Quem foi para a jogatina perdeu. Aqui neste país os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como ganharam nos últimos anos. Ninguém tinha direito de ganhar de forma ilícita mais do que o sistema legal lhes permitia". No encontro, primeiro-ministro de Portugal apoiou o presidente Lula e ressaltou que os países europeus também estão tomando medidas contra a crise financeira mundial. "É uma crise daquelas que se vê uma vez na vida, de cem em cem anos. Não é uma crise cíclica de um processo normal de crescimento. É uma crise absolutamente global, e, como toda crise, injusta, porque envolve países que em nada contribuíram para ela", afirmou José Sócrates.
De O Globo
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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